Galeria de Arte Dayse Resende

João Congo III, série Arquivos Naturais de Valdelice Neves

Partituras de Luz – Exposição João Congo III

A artista plástica e escultora Valdelice Neves registra signos que entoam mensagens a favor da preservação do pássaro João-Congo, o Príncipe das Florestas, em processo de extinção. Ao cantar silêncios, como frisou Guimarães, a artista-onça, pintora-zulu, comove ao reproduzir sem cessar, por meio de suas mãos calejadas de tecer o metal colorizado, os ninhos da família de João Congo e as casas dos marimbondos-flecheiros, amigos simbióticos que se protegem da aspereza da mata, e, por que não dizer, do Mundo.

Tal uma fada intrínseca às leituras do Tempo e da Vida Selvagem ameaçada, orientada pelas estórias das tribos Zoró, Valdelice Neves relata novidades por meio de sua explanação didática: em canoa, ao ver galhos quase submergidos, com ninhos acima da água, a desbravadora pergunta o que é aquilo e ouve”: - “é o sinal das aves!”, dizem-lhe os ribeirinhos. Ao construírem ninhos bem no alto, seres alados sinalizam que lá vem cheia brava, chuva arrebatadora de cobrir cabanas e copas, inundando tudo. Só restam no ar livre as pontas das árvores com ninhos ao sol: os pássaros sabem do que está por vir. Intrigada, Valdelice escuta dos nativos: “não vá lá, quem vai morre: não volta mais!”. Valdelice foi e voltou viva, mas – diz a lenda que início teve há 30 anos – “ela fez conchavo com os bichos!”. Na verdade, a artista firmara consigo mesma e com a Mata Amazônica um compromisso: a partir de então, embrenha-se na estória do cantor mais versátil, por sua beleza tornado cativo por homens e mulheres da região, apreendedor do canto alheio e imitador da voz de outros animais. Suas penas de cores raras, bico de quatro tons, olhos azuis. Uma ave real.

Para o filósofo Roland Barthes, “escrever é desfazer ou refazer o corpo materno”. Valdelice Neves refaz o corpo da Mãe Natureza através de saga aprimorada por técnicas misturadas, em surreais sobreposições de lâminas com imagens artisticamente elaboradas, partituras de luz e metal que, através da tessitura de cipós torcidos por bicos, passeiam pela Ponte do Abunã e adentram o sentido do voo das grandes aves.

                                                                                              Texto: Rogério Zola Santiago*







                                                        • Crítico com mestrado pela Universidade de Indiana, USA


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Um comentário

Anônimo disse...

Que obras lindas!